sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O prêmio da inocência

Quando o dia declinava em Jerusalém, Susana voltava do campo, seguida fielmente pelo rebanho de seu pai, Simeão. Ao alcançar o aprisco, as primeiras estrelas já apareciam cintilando no firmamento. Deixando as ovelhas seguras, sentou-se um pouco ao relento, a fim de contemplar os astros. Chegara o melhor momento do dia!
Gostava de imaginar que as estrelas fossem pequenos diamantes, como os que vira certa vez coruscar nas suntuosas vestes do sumo sacerdote. E pensava maravilhada: "Como Deus é perfeito! Até o céu Ele quis enfeitar. Quando o azul celeste se obscurece, a ponto de se tornar quase negro, Ele o enche de diamantes...".
Quanto desejava contemplar de perto ao menos uma estrela! E seguia excogitando como Deus, o Todo-Poderoso, devia ser luminoso... Certamente muito mais que as estrelas! Mas estas serviam para, pelo menos, dar uma ideia de sua grandeza.
Naquela noite, porém, ela notou que os astros brilhavam com uma força como jamais vira. Seu fulgor os tornava tão próximos, que tinha a impressão de poder tocá-los com as mãos.
- Será que subindo em um lugar alto consigo apanhar uma estrela? Como gostaria de ter uma... - dizia de si para consigo.

Imersa estava nessas cogitações, quando ouviu um estrépito de cavalgaduras e pessoas falando alto. Uma gigantesca caravana de camelos, dromedários, jumentos e elefantes, nobres e servos, homens e mulheres, parava em frente à sua casa. Pulou da pedra em que estava sentada e foi correndo encontrá-los. Deslumbrada com tanta pompa, sentia que estava sonhando... Que fazia tal comitiva em Jerusalém, num bairro de pastores afastado do centro da cidade?
Ela aproximou-se de um enorme camelo que transportava um varão muito distinto, vestido com sedas finíssimas e ostentando uma esplêndida coroa de ouro e pedras preciosas. Fazendo uma profunda reverência, perguntou-lhe:
- Nobre senhor, que procurais em nosso humilde bairro? - Ele respondeu:
- Sou o rei Gaspar. Viemos todos seguindo uma estrela brilhantíssima que nos guiou da Pérsia até aqui. Entretanto, ela despareceu e o rei Herodes nos enviou a Belém. Já estamos chegando aos limites de Jerusalém e não sabemos que rumo tomar.
Susana não podia acreditar no que ouvia. Uma estrela orientava toda esta caravana?! Talvez eles também estivessem procurando diamantes... Será que poderia acompanhá-los? Pondo-se de joelhos, suplicou:
- Eu conheço o caminho a Belém e vos imploro: tende a bondade de permitir que eu acompanhe a vossa caravana! Também estou atrás de uma estrela! - O rei, ao ouvir suas palavras,achou graça e disse:
- Minha pequena, nós não viajamos para descobrir estrelas... Estamos em busca do Sumo Rei que acaba de nascer e cuja estrela nos trouxe até aqui. Queremos prestar- -Lhe nossas homenagens e oferecer-Lhe alguns presentes, pois Ele será grande em todo o universo. Se queres, podes vir conosco. Teu pai permitiria?
Susana foi correndo falar com Simeão que, vendo-a em tão insigne companhia, sentiu-se muito honrado que ela fosse com eles na viagem. A menina não cabia em si de tanta felicidade. Além de seguir uma estrela, ela iria visitar o Rei do universo, o qual, decerto, teria muitos diamantes para dar-lhe!
Caminhando à frente da caravana, conduziu-os até a estrada que levava a Belém. Assim que retomaram o percurso, uma imensa luz dourada cruzou o céu, bem próxima à Terra, iluminando tudo, e ficou um pouco adiante, acima deles, avançando lentamente. Todos se alegraram por reencontrar a estrela. Susana pulava, cantava e ria de tanta alegria! Até mesmo derramava lágrimas de contentamento, pelo prodígio que via com seus próprios olhos.
Seguindo o astro luminoso, chegaram a Belém e ele parou em cima de uma casa muito simples. Percebendo os reis - havia ali outros dois reis, além de Gaspar: Melchior e Baltasar - que tinham chegado ao lugar tão anelado, desceram de seus camelos e entraram na habitação. Susana seguiu-os, mas ficou atrás. Viu-os quando se prostraram por terra diante de uma jovem e bondosa Senhora, que segurava nos braços um tenro bebê, lindo e luminoso, mais belo que o Sol.
Quando os reis terminaram de oferecer seus presentes, ela aproveitou a oportunidade para aproximar- se do Menino e render-Lhe também suas homenagens. Esgueirou-se com agilidade entre as pessoas que enchiam o reduzido espaço e conseguiu ficar bem em frente a Ele, prostrando-se em adoração. Ao levantar-se, o Menino a fitava e sorria! Seu divino rosto era tão reluzente e esplêndido, que ela caiu novamente de joelhos, arrebatada por sua luz!
Tão extasiada estava, que nem sabia o que devia fazer... e osculou suas mãos e seus pés. O Menino Jesus parecia estar contentíssimo por ver outra criança como ele no meio daquela multidão e abriu seus braços, querendo abraçá-la. Nossa Senhora colocou-O no colo da pequena Susana, que O acariciava e O abraçava. Depois que O devolveu à Mãe, saiu da casa junto com os reis, cheia de entusiasmo. No rosto da menina ficara para sempre refletida a luz divina. Tão grande era seu amor pelas estrelas criadas por Deus e por seu Criador feito Menino, que ela tivera nos braços, que se havia tornado como um astro a espelhar a luz de Cristo, o Salvador! Seu desejo de possuir uma estrela fora atendido, pois a luz que agora portava em seu coração era mais fulgurante do que qualquer diamante deste mundo... Deus ama tanto a inocência, que a premeia dos modos mais magníficos!

 Revista Arautos do Evangelho - Dezembro 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário