sábado, 5 de novembro de 2016

Valor da oração

No princípio do século XX um grupo de 10 rapazes alunos do Colégio de Viviers, na Bélgica, formou uma Associação a que deram por título União de Orações. Esses bons jovens comprometeram-se a rezar e a fazer meia hora de oração uma vez por semana para que Deus abençoasse a Missão do seu antigo professor, Padre Luís Bernarert, em Colombo (atual Sri Lanka). Eis o que conta este sacerdote:
“Encontrei, certa vez, num quarto particular do hospital um empregado dos correios, boa pessoa, bastante inteligente, mas vítima dum câncer. As suas três filhas frequentavam a escola da missão. Ele porém era budista e amigo dos sacerdotes dessa religião. Tratava-se de um caso desesperado e ele bem o entendia.
Consegui estar a sós com ele, falei-lhe à vontade. Depois de meia hora de conversa, perguntei-lhe se queria ser batizado. Respondeu-me: “Compreendi tudo quanto me disse. Vou pensar, e amanhã dou-lhe a resposta.”

No dia seguinte, às cinco horas da tarde como de costume, fui ao hospital. Encontrei à volta da sua cama quatro monges budistas, de modo que nem sequer consegui vê-lo. Resolvi, porém, não abandonar aquela alma e voltar no dia seguinte, à hora habitual. Às duas horas da tarde tive de sair para despachar uns assuntos. Veio-me então a feliz ideia de antecipar a minha visita ao hospital.
Por Providência de Deus encontrei o doente em agonia. Amigos e parentes enchiam o quarto para o acompanharem no último momento. A sua cabeceira estava o filho mais velho, que era sacerdote budista.
Deixaram-me entrar. Como conseguir agora falar com o doente sobre o batismo? Todas aquelas pessoas que o rodeavam eram inimigas de nossa Religião. Se lhes pedisse que me deixassem só com o agonizante era mais que certo que não o fariam.
O caso tornava-se urgente porque o doente estava nas últimas. Lembrei-me então, dos meus bons amigos de Viviers e disse: “Senhor, por aqueles bons jovens que tanto pedem e se sacrificam pela minha Missão, dai-me esta alma. Que ela não se perca eternamente!...”
Cheio de coragem perguntei com delicadeza ao moribundo:  “Ainda me conhece?”
“Sim Padre!”, disse ele.
“Deseja que lhe faça aquilo de que anteontem lhe falei?”
“Sim Padre”, respondeu com voz sumida.
“Vou tratar disso.”
A família estava longe de adivinhar o que era. Pensava certamente da educação das suas filhas, favor que me tinha pedido. Com toda a paz e sem nada me perturbar, cheguei-me mais para a cabeceira do doente. Com muito carinho disse às pessoas presentes:
“O doente está ardendo de febre. Tem a língua muito seca. Tragam-me uma xícara de leite.”
Quando a trouxeram, eu mesmo lhe meti na boca algumas colheres de leite. A família parecia encantada com a minha delicadeza. Uma vez que os tinha conquistado, acrescentei:
“Tem os lábios muito secos e a testa que parece um forno. É preciso refrescá-la.”
O monge budista, que estava ao lado apresentou-me um copo de água e um lenço. Passei o lenço umedecido pela testa do moribundo, deixando escorrer algumas gotas de água, enquanto dizia:
“José, eu te batizo, em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.”
Ninguém desconfiou da grande maravilha que naquele momento ali se acabara de realizar.  O homem tinha deixado de ser pagão. Era cristão; filho de Deus e da Santa Igreja.
Um quarto de hora depois, faleceu.
No dia seguinte, uma longa procissão de pagãos e sacerdote budistas transportou o seu corpo para o cemitério. Se o enterro aos olhos dos homens era pagão, os anjos já tinha acompanhado a sua alma até ao Céu.”

Fonte: Pe. Fernando Leite, Jornal “A Presença”, Portugal, fevereiro de 1997, n 157.

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