No
princípio do século XX um grupo de 10 rapazes alunos do Colégio de Viviers, na
Bélgica, formou uma Associação a que deram por título União de Orações. Esses
bons jovens comprometeram-se a rezar e a fazer meia hora de oração uma vez por
semana para que Deus abençoasse a Missão do seu antigo professor, Padre Luís
Bernarert, em Colombo (atual Sri Lanka). Eis o que conta este sacerdote:
“Encontrei,
certa vez, num quarto particular do hospital um empregado dos correios, boa
pessoa, bastante inteligente, mas vítima dum câncer. As suas três filhas
frequentavam a escola da missão. Ele porém era budista e amigo dos sacerdotes
dessa religião. Tratava-se de um caso desesperado e ele bem o entendia.
Consegui
estar a sós com ele, falei-lhe à vontade. Depois de meia hora de conversa,
perguntei-lhe se queria ser batizado. Respondeu-me: “Compreendi tudo quanto me
disse. Vou pensar, e amanhã dou-lhe a resposta.”
No
dia seguinte, às cinco horas da tarde como de costume, fui ao hospital.
Encontrei à volta da sua cama quatro monges budistas, de modo que nem sequer
consegui vê-lo. Resolvi, porém, não abandonar aquela alma e voltar no dia
seguinte, à hora habitual. Às duas horas da tarde tive de sair para despachar
uns assuntos. Veio-me então a feliz ideia de antecipar a minha visita ao
hospital.
Por
Providência de Deus encontrei o doente em agonia. Amigos e parentes enchiam o
quarto para o acompanharem no último momento. A sua cabeceira estava o filho
mais velho, que era sacerdote budista.
Deixaram-me
entrar. Como conseguir agora falar com o doente sobre o batismo? Todas aquelas
pessoas que o rodeavam eram inimigas de nossa Religião. Se lhes pedisse que me
deixassem só com o agonizante era mais que certo que não o fariam.
O
caso tornava-se urgente porque o doente estava nas últimas. Lembrei-me então,
dos meus bons amigos de Viviers e disse: “Senhor, por aqueles bons jovens que
tanto pedem e se sacrificam pela minha Missão, dai-me esta alma. Que ela não se
perca eternamente!...”
Cheio
de coragem perguntei com delicadeza ao moribundo: “Ainda me conhece?”
“Sim
Padre!”, disse ele.
“Deseja
que lhe faça aquilo de que anteontem lhe falei?”
“Sim
Padre”, respondeu com voz sumida.
“Vou
tratar disso.”
A
família estava longe de adivinhar o que era. Pensava certamente da educação das
suas filhas, favor que me tinha pedido. Com toda a paz e sem nada me perturbar,
cheguei-me mais para a cabeceira do doente. Com muito carinho disse às pessoas
presentes:
“O
doente está ardendo de febre. Tem a língua muito seca. Tragam-me uma xícara de
leite.”
Quando
a trouxeram, eu mesmo lhe meti na boca algumas colheres de leite. A família
parecia encantada com a minha delicadeza. Uma vez que os tinha conquistado,
acrescentei:
“Tem
os lábios muito secos e a testa que parece um forno. É preciso refrescá-la.”
O
monge budista, que estava ao lado apresentou-me um copo de água e um lenço.
Passei o lenço umedecido pela testa do moribundo, deixando escorrer algumas
gotas de água, enquanto dizia:
“José,
eu te batizo, em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.”
Ninguém
desconfiou da grande maravilha que naquele momento ali se acabara de
realizar. O homem tinha deixado de ser
pagão. Era cristão; filho de Deus e da Santa Igreja.
Um
quarto de hora depois, faleceu.
No
dia seguinte, uma longa procissão de pagãos e sacerdote budistas transportou o
seu corpo para o cemitério. Se o enterro aos olhos dos homens era pagão, os
anjos já tinha acompanhado a sua alma até ao Céu.”
Fonte: Pe. Fernando Leite,
Jornal “A Presença”, Portugal, fevereiro de 1997, n 157.
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