quarta-feira, 29 de março de 2017

Uma ponte para o Céu

Aproximava-se a solene festa de Primeira Comunhão no colégio das Irmãs da Caridade. Apressavam-se as religiosas na confecção dos trajes das crianças e nos ­bordados das toalhas e alfaias litúrgicas que seriam utilizados em tão importante celebração. Muito ocupada e diligente, a bondosa irmã Estella preparava as crianças para o Banquete Celestial. Ela podia se considerar uma mestra feliz: seus alunos mostravam-se zelosos e entusiasmados pelas verdades da Fé, e a devoção refulgia em seus inocentes corações.
Um, porém, a contristava: Lucas, o mais travesso do grupo e muito preguiçoso no cumprimento dos deveres. Apesar de ser piedoso e ter bom coração, ele passava o tempo todo reclamando dos sofrimentos, incômodos ou aborrecimentos do dia a dia. De manhã, quando sua mãe ia acordá-lo, enrolava-se nos cobertores e continuava dormindo. Intimado a levantar-se, fingia com grande talento indisposições e moléstias que lhe angariassem alguns minutos extras na cama...
Na escola, nunca apresentava os trabalhos com pontualidade e fugia das provas sempre que podia. Para evitar uma delas, chegou a simular uma misteriosa paralisia muscular que lhe impedia de segurar o lápis nas mãos... O professor decidiu, então, tomar-lhe a lição oralmente. No entanto, foi uma tentativa frustrada, pois ele aparentou sentir uma terrível dor nos joelhos por ficar de pé durante a arguição, e queixou-se de agudas pontadas na coluna quando recebeu ordem para sentar-se!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Testamento espiritual de Santa Bernadete

Apresentamos abaixo um texto extraído da revista Dr Plinio para ser meditado na festa de Nossa Senhora de Lourdes, comemorada no dia 11 de fevereiro.
Não se pode falar de Lourdes sem lembrar a personagem ligada de modo indissociável a essa história de bênçãos e misericórdias. A modesta pastorinha a quem Nossa Senhora apareceu é o primeiro milagre de Lourdes: milagre da graça, milagre da santidade.
Por isso a Igreja a elevou às honras dos altares como Santa Bernadete Soubirous.
Antes de partir deste mundo para as glórias da bem-aventurança eterna, a vidente deixou seu testamento espiritual, uma comovedora prece de ação de graças em que ela, ao invés de se mostrar reconhecida pelos insignes favores de que foi objeto, louva Nossa Senhora e seu Divino Filho por tudo o que lhe representou sofrimento e carência nesta vida:
 “Pelas zombarias recebidas, pelas injúrias e pelos ultrajes da parte dos que me mandaram prender como doida, pela cólera que tiveram contra mim, tomando-me como interesseira. Pela ortografia que eu jamais consegui aprender, pela memória que eu jamais tive, pela minha ignorância, graças vos dou, Senhora. Graças, porque se houvesse sobre a terra uma menina mais ignorante e mais estúpida do que eu, Vós a teríeis escolhido para lhe aparecer.
“Graças, ó Jesus, por ter dessedentado com amarguras esse coração por demais frágil que me destes! Por Madre Josefina, que disse de mim: não serve para nada... Pelos sarcasmos da madre mestra de noviças, pela sua voz dura, pelas injustiças, pelas ironias, pelo pão da humilhação, muito obrigada. Graças por ter sido a Bernadete ameaçada de prisão porque tinha visto a Virgem Maria, olhada pelas pessoas como um raro animal, aquela Bernadete tão mesquinha que, ao vê-la, diziam: É essa?
“Pela minha doença, pelas minhas carnes em putrefação, pelos meus ossos com cáries, pelos meus suores, pela minha febre, pelas minhas dores surdas e agudas, graças ó meu Deus! E por essa ânsia que Vós me destes para o deserto da aridez interior, pelos vossos silêncios, mais uma vez por tudo, por Vós ausente e presente, graças, ó Jesus!”
Ela compreendeu bem que não teve apenas aparições, mas recebeu também uma cruz, mais preciosa do que as próprias visões de Nossa Senhora. E ter aceito de modo perfeito a cruz, levando-a até o fim com amor, com entusiasmo pelo sofrimento, por tudo quanto a dor significa no plano sobrenatural — isto fez dela uma santa.
É o modelo que a Providência nos propõe para que tenhamos uma vida espiritual norteada, mais do que pelo desejo do Céu, pela graça de amar e adorar desinteressadamente o Senhor do Céu e da Terra.

Plinio Corrêa de Oliveira - Texto extraído da revista Dr Plinio fev 2003

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Qual a origem e o significado do incenso?

A palavra incenso vem do latim incendere, acender, e designa a resina aromática obtida de uma árvore oriunda do oriente próximo: a Boswellia sacra. Seu uso no culto divino remonta aos tempos de Moisés, que recebeu do próprio Deus a receita para a sua elaboração (cf. Ex 30, 34-36). No Templo de Jerusalém os lampadários acesos e a coluna constante de incenso significavam a presença de Deus. A coluna recordava aquela que guiou o povo na saída do Egito, constituída de nuvens durante o dia e de fogo à noite.
As três propriedades do incenso têm simbolismos distintos. Ao queimar ele simboliza o zelo que deve consumir os fiéis durante o culto. O seu perfume representa o aroma da virtude e da graça da qual Cristo está pleno. E a fumaça é associada à oração, como se lê nas Escrituras: “Que minha oração suba à tua presença como incenso” (Sl 140, 2).

As formas e tamanhos do incensário, ou turíbulo (do grego tus – incenso) variam muito, mas, sem dúvida, o maior do mundo se encontra em Santiago de Compostela e é utilizado na Missa do peregrino. Chamado de Botafumeiro, pesa 53 quilos e mede 1,5 metro. Uma roldana o segura no alto da abóbada da catedral permitindo que, com ajuda de uma longa corda, seus movimentos alcancem quase toda a largura do transepto. Oito homens, os tiraboleiros, são necessários para pô-lo em funcionamento.
Revista Arautos do Evangelho - set 2016

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O prêmio da inocência

Quando o dia declinava em Jerusalém, Susana voltava do campo, seguida fielmente pelo rebanho de seu pai, Simeão. Ao alcançar o aprisco, as primeiras estrelas já apareciam cintilando no firmamento. Deixando as ovelhas seguras, sentou-se um pouco ao relento, a fim de contemplar os astros. Chegara o melhor momento do dia!
Gostava de imaginar que as estrelas fossem pequenos diamantes, como os que vira certa vez coruscar nas suntuosas vestes do sumo sacerdote. E pensava maravilhada: "Como Deus é perfeito! Até o céu Ele quis enfeitar. Quando o azul celeste se obscurece, a ponto de se tornar quase negro, Ele o enche de diamantes...".
Quanto desejava contemplar de perto ao menos uma estrela! E seguia excogitando como Deus, o Todo-Poderoso, devia ser luminoso... Certamente muito mais que as estrelas! Mas estas serviam para, pelo menos, dar uma ideia de sua grandeza.
Naquela noite, porém, ela notou que os astros brilhavam com uma força como jamais vira. Seu fulgor os tornava tão próximos, que tinha a impressão de poder tocá-los com as mãos.
- Será que subindo em um lugar alto consigo apanhar uma estrela? Como gostaria de ter uma... - dizia de si para consigo.